O acidente ocorrido no domingo (9) no aeroporto de Congonhas (SP) voltou a levantar questionamentos sobre a segurança do local. Um avião de pequeno porte saiu da pista e parou no limite do barranco na lateral da área de taxiamento. Como a cidade cresceu ao redor de Congonhas, na zona sul da capital paulista, ele acabou encravado no meio urbano adensado, ao lado de grandes bairros, e atraiu mais atenção para as operações realizadas ali com o passar dos anos.
Uma das formas de aumentar a segurança no local foi a instalação de uma estrutura que “soca” o avião no chão caso ele não consiga parar normalmente na pista. Chamado de Emas (Engineered Material Arresting System, ou, Sistema de Desaceleração com Materiais Projetados), essa é uma cama de concreto que se deforma quando um avião passa por ela, afundando o avião e auxiliando na sua parada.
Esse sistema teria evitado algo mais grave com o acidente ocorrido no domingo?
Como é?
De acordo com Jorge Eduardo Leal Medeiros, professor do curso de Engenharia da USP (Universidade de São Paulo), esse sistema é similar ao das áreas de escape vistos em rodovias pelo país.
“O Emas é como uma caixa de brita de uma rodovia, encontrada em áreas de escape de estradas, como na Anchieta (SP). São saídas nessas vias para veículos, como ônibus e caminhões, que perdem o freio”, diz Medeiros. Também pode ser comparado a uma caixa de brita das corridas de Fórmula 1, onde o carro, quando sai da pista, desacelera e fica preso no local, não colidindo contra o muro, por exemplo.
“A função do Emas é aumentar muito a frenagem, ou seja, a redução da velocidade, sem quebrar o trem de pouso. Ele aumenta a resistência ao avanço do avião e faz com que ele pare”, afirma o professor.
Como é em Congonhas?
Apenas a pista principal de Congonhas possui o Emas, justamente a que estava em uso no momento do acidente.
Ele é o primeiro aeroporto do Brasil a contar com essa estrutura, que custou R$ 122,5 milhões segundo a Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária), que administra o local. Cada cabeceira da pista possui um sistema desse, com dimensões de 64 metros x 47,4 metros em uma das extremidades e 72 metros por 47,4 metros na outra. As duas estruturas são sustentadas por vigas e pilares que comportam o peso dos aviões que operam no aeroporto, além da cama com as placas de cimento.
De acordo com Pablo Miranda, presidente da Kibag Brasil, empresa que instalou o Emas em Congonhas, essas placas são formadas por concreto e esferas de sílica, que se rompem quando há pressão sobre elas.
“A energia do movimento do avião indo em direção a essa estrutura é transformada em energia de rompimento das camadas das pedras do Emas. Conforme o avião vai avançando nessa ‘cama’, ele vai desacelerando”, diz Miranda.
Para que o concreto se rompa, não é apenas o peso do avião que é levado em consideração. É preciso ponderar também a velocidade com que ele entra naquele espaço e sua direção.
Ele também funciona diferente se o avião entra com o pneu rodando ou se arrastando, com as rodas travadas. Todas essas possibilidades são dimensionadas de acordo com as principais aeronaves que são operadas no local.
O projeto tem de abranger até mesmo como ocorrerá a desaceleração, tendo em vista que, se for muito rápida, pode causar danos ao corpo humano.
Funcionaria com o jato de domingo?
Thiago Nykiel, diretor executivo da INFRAWAY Engenharia, empresa especializada em infraestrutura, acredita que o sistema teria sido eficiente para conter o avião no domingo.
Ele não passou pelo Emas porque saiu para a lateral da pista, mas, caso tivesse ido em sua direção, Nykiel acredita que teria conseguido conter o avanço da aeronave.
“Todo Emas é eficiente [para conter aeronaves], e, dificilmente, aquele material não iria funcionar [com aquele jato]. Esse é um material que se rompe e vai sendo deformado, e o atrito com o concreto acaba reduzindo a velocidade da aeronave”, diz o engenheiro.
Fonte: Economia UOL