Depois de a pandemia derrubar a demanda por voos domésticos em até 90% no auge da crise, as companhias aéreas começam 2021 retomando rotas canceladas, reforçando os destinos mais procurados no verão e inaugurando voos regionais.
O pacote de socorro do governo para as aéreas não saiu e, se ainda não é possível reaver as perdas de 2020 — até o terceiro trimestre, o prejuízo acumulado das empresas era de R$ 19,7 bilhões —, ao menos é uma tentativa de recuperar o fôlego.
O momento, porém, ainda é de preocupação com a nova onda de Covid-19, e especialistas recomendam que passageiros adiem os planos de viagem se for possível.
A Azul informa que atualmente já retomou 70% das decolagens na comparação com o período de antes da pandemia. A ocupação dos assentos é de 80%. A recuperação se dá pelo público que busca lazer.
Desde dezembro, a empresa retomou rotas turísticas como Bonito, no Mato Grosso do Sul, e Parnaíba, no Piauí, procurada por praticantes de kitesurf. Através da Azul Conecta, braço de aviação regional da Azul, passou a voar para destinos como Paraty, Angra e Búzios, no Rio de Janeiro, além de Ubatuba e Itanhaém, em São Paulo.
– Temos uma frota diversa e, dependendo da demanda do mercado, usamos aviões de diferentes tamanhos. E nossa operação é muito capilarizada. Estamos conseguindo recuperar a malha de forma acelerada – diz Marcelo Bento Ribeiro, diretor de relações institucionais da Azul, que observa que o crescimento de casos de Covid-19 traz preocupação, embora ele veja resiliência na demanda.
Nas operações regionais, por exemplo, a Azul Conecta utiliza aviões Cessna Gran Caravan, de dez lugares, com custo operacional mais baixo.
– Esses voos regionais não repõem o prejuízo acumulado ano passado, mas num primeiro momento ativam rotas turísticas que não são atendidas por grandes aeronaves. Também alimentam de passageiros aeroportos maiores, que fazem rotas mais longas – explica o advogado Felipe Bonsenso, especialista em Direito Aeronáutico.
As companhias Gol e Latam reforçaram voos para destinos turísticos do Nordeste. A Gol informou que recompôs 75% de sua oferta de assentos em relação ao mesmo período do ano passado, e que a região Nordeste tem novas opções de linhas diretas decolando do sul e do norte do país.
Segundo a empresa, serão cerca de 556 voos por dia no verão, um aumento de 50% dos voos e de 54% de oferta de assentos na comparação com 2020), para 62 destinos e 30 novas rotas.
Já a Latam informou que adicionou quase três mil voos entre dezembro passado e este mês. Em novembro, a capacidade da companhia subiu a 55,3% de 48,7%, em outubro.
São 44 destinos no país, com maior procura para as cidades de praia e do Nordeste, destinos que impulsionaram as vendas no último trimestre do ano passado.
A coluna Capital, do GLOBO, informou que cinco meses depois de realizar a demissão de 37% de seus tripulantes, a Latam está abrindo um processo de promoção de copilotos para a função de comandante, numa indicação de que a retomada da demanda está acontecendo de forma mais rápida do que o planejado pela companhia.
A Voepass, grupo que reúne as companhias Passaredo e Map, também aumentou o número de voos para os destinos mais procurados no verão da empresa, como Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Foz do Iguaçu, a partir de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.
– Com o turismo internacional ainda restrito aos brasileiros, as empresas são muito ágeis em remanejar aeronaves para destinos que têm maior demanda, como o Nordeste, e maior margem de ganho – diz Thiago Nykiel, sócio da INFRAWAY, consultoria de aviação civil.
Nykiel observa que o mercado regional sempre foi deficitário no país. Mas com subsídio oferecido pelos governos estaduais, com redução de ICMS sobre querosene de aviação às empresas que aumentarem a oferta de voos, há chance de crescimento.
E com a concessão de aeroportos regionais nas últimas rodadas de privatização a iniciativa privada ajuda a melhorar a infraestrutura desses terminais, que no futuro poderão receber aeronaves maiores, observa o especialista da INFRAWAY.
O advogado Felipe Bonsenso lembra que, sem o auxílio do governo federal, as empresas aéreas brasileiras renegociaram contratos de leasing de aeronaves, devolveram algumas aeronaves e reduziram seu quadro de funcionários para se ajustar ao novo cenário de queda de demanda.
– A única maneira de recuperar o prejuízo é cortar custos. A outra é aumentar receita, elevando o preço das passagens. Isso não aconteceu, já que as empresas querem operar com 100% dos assentos ocupados. Não adianta colocar o preço nas alturas neste momento e operar só com 50% da capacidade – diz Bonsenso.
Fonte: O Globo