Valor Econômico–‘Avião elétrico’ não saiu do forno, mas volume de pedidos cresce

Antes mesmos dos projetos de veículos elétricos de pouso e decolagem vertical, os eVTOLS, saírem do forno, companhias no Brasil e em outros países estão encomendando essa novidade, que promete revolucionar o transporte de passageiros e de carga.

Com o compromisso de serem mais baratos, silenciosos e sustentáveis do que helicópteros e aviões, os eVTOLs vão concorrer em um mercado estimado pelo Morgan Stanley em US$ 1 trilhão em 2040, chegando a US$ 9 trilhões na década seguinte. Essas cifras vultosas alimentaram a corrida pelos “carros voadores” e atraíram mais de uma centena de startups e fabricantes tradicionais de aviões e até de automóveis, caso da General Motors, com projetos em diferentes fases de desenvolvimento.

No lado dos compradores, muitos já se movimentam. A Flapper, empresa de aviação privada sob demanda, fechou recentemente um acordo com a Eve, da Embraer, para a aquisição de 25 eVTOLs. Segundo o presidente da startup, Paul Malicki, há negociações em andamento com outras duas fabricantes – com modelos capazes de voar distâncias maiores – e que devem ser anunciadas em breve.

As entregas dos eVTOLs da Eve devem começar em 2026 e vão focar em rotas curtas, dos aeroporto internacional de Guarulhos, por exemplo, ou do Catarina (aeroporto de luxo da JHSL, em São Roque) até Congonhas. “Podemos reduzir em até 50% o custo de voo”, disse Malicki.

Também no braço de transporte de passageiros, a Azul anunciou na semana passada investimentos de cerca de R$ 1 bilhão com a encomenda de 220 aeronaves eVTOL da fabricante alemã Lilium.

Atualmente, 38% da frota da Azul são de aeronaves da Embraer. O motivo de não terem escolhido a brasileira nessa nova empreitada foi a autonomia de voo maior (240 km da Lilium contra 100km do modelo da Eve) e espaço para seis passageiros mais o piloto (no caso da Embraer, são quatro passageiros e o piloto).

Os eVTOLs podem ser uma opção importante aos helicópteros no futuro. Hoje, entretanto, a tecnologia deve ser usada para viagens curtas dentro das cidades, explicou Bruno Biésuz, superintendente operacional da Helisul.

“A autonomia de um eVTOL hoje é de no máximo 25 minutos e uma recarga rápida deve demorar. Os helicópteros ttêm autonomia de 3 horas de voo”.

A Helisul é uma das principais operadoras de helicópteros da América Latina. Na frota, são 57 aeronaves (entre três aviões). A empresa firmou pedido inicial de 50 modelos do eVTOL da Eve.

Antes da entrega dos modelos, o grupo deve iniciar anunciar em até 15 dias uma operação especial em algumas rotas com helicóptero para já testar e estimular a demanda. Um exemplo seria uma rota entre a Barra da Tijuca e o Leblon. “Nesse projeto, a gente tende a ganhar um volume muito grande de passageiros para conseguir baratear a operação especial em algumas rotas com helicóptero para já testar e estimular a demanda. Um exemplo seria uma rota entre a Barra da Tijuca e o Leblon. “Nesse projeto, a gente tende a ganhar um volume muito grande de passageiros para conseguir baratear a operação”, explicou Biésuz, destacando que os custos das rotas vão ser divididos com a Embraer.

Apesar do otimismo de compradores e fabricantes, os desafios são grandes. “Nossa mensagem para os investidores: temperem sua expectativa com paciência”, disse o banco Morgan Stanley, ponderando que levará décadas para que se atinja um volume elevado de vendas.

Segundo CEO e sócio-fundador da consultoria especializada em aviação civil INFRAWAY Engenharia, Thiago Nykiel, as aeronaves elétricas funcionarão bem principalmente para a micromobilidade – trajetos curtos, de trânsito intenso. E serão complementares a outros veículos, não substitutos.

Entre os principais desafios à decolagem dos eVTOLs, enumera o especialista, estão certificação das aeronaves e a infraestrutura de operação.

Ao contrário dos aeroportos, pensados para concentrar um maior número de viajantes e, dessa forma, lotar grandes aviões, a nova tecnologia trará a descentralização dos serviços em diferentes bases operacionais (os vertiportos).

Onde serão instaladas essas bases, as melhores rotas e a logística de abastecimento serão fundamentais para garantir que a operação seja economicamente viável, assim como o preço do carro voador, cujas estimativas hoje vão de US$ 200 mil a US$ 500 mil.

Mesmo com os desafios, Nykiel diz que a previsão de início de operação dos primeiros carros voadores em 2026 é exequível.

Procurada, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou que tem acompanhando o tema, mas que até agora não recebeu nenhum pedido formal para a operação dessas aeronaves no mercado brasileiro. Os debates devem ganhar forma quando os primeiros pedidos de certificação chegarem.

Para além dos eVTOLs, empresas estudam também a eletricidade para transporte de carga, como é o caso da DHL Express. A empresa fechou acordo com a startup americana Eviation para a compra de 12 aviões Alice eCargo, totalmente elétricos.

Mirele Mautschke, CEO da DHL Express no Brasil, disse ao Valor que os modelos vão ser usados na operação da empresa nos Estados Unidos, em rotas mais curtas. O modelo, que é um avião, tem capacidade para transportar 1,2 mil kg de carga com alcance de 815 quilômetros. “No início, a operação vai ser focada na costa oeste e sudeste dos Estados Unidos. Mas esse é apenas o começo”, disse a executiva.

A ideia do grupo é investir € 7 bilhões até 2030 no pilar ambiental do ESG (governança, ambiente e social) – a aviação é um forte emissor de gases de efeito estufa.

Fonte: Valor Econômico
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/08/10/aviao-eletrico-nao-saiu-do-forno-mas-volume-de-pedidos-cresce.ghtml