Valor Econômico – Embraer vive cenário de recuperação, ainda gradual

A Embraer divulga amanhã os resultados do quarto trimestre e a expectativa no mercado é a de que os números ainda venham fracos, porém melhores do que os vistos nos trimestres anteriores. A percepção sobre o futuro da empresa é mais positiva do que há um ano e a previsão é de continuidade da recuperação gradual nos próximos meses, após os estragos da pandemia de covid-19 na aviação comercial e do fim do acordo com a americana Boeing. Mas ainda não há quem se arrisque a dizer que a zona de turbulência ficou para trás.

“Por enquanto, ainda há muitas incertezas”, escreveram os analistas do UBS, em amplo relatório sobre as perspectivas para a fabricante de aeronaves brasileira, publicado no começo deste mês. A observação resume bem a percepção de analistas e consultores ouvidos pelo Valor: ao mesmo tempo em que há boas oportunidades de crescimento para a companhia, não está claro se o tamanho da “nova” Embraer será adequado à nova realidade de mercado e quando ela poderia voltar a entregar o mesmo nível de margens visto no passado.

“Os resultados do quarto trimestre serão fundamentais para entender para onde a Embraer caminha. O real depreciado ajuda, mas ainda é cedo para saber se o nível de competitividade da ‘nova’ Embraer se assemelha ao da ‘antiga’”, diz o analista Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos.

Depois do resultado operacional (medido pelo Ebitda) de US$ 37,7 milhões negativos no terceiro trimestre, o consenso de mercado da Bloomberg aponta para resultado melhor no quarto trimestre, positivo em US$ 15 milhões, na esteira do maior volume de entregas e de contribuições positivas de todas as áreas de negócio. No intervalo, a companhia entregou 71 jatos, de um total de 130 em todo o ano de 2020.

Para a receita líquida, o BTG Pactual projeta US$ 1,33 bilhão no trimestre, queda de 36% na comparação anual mas 75% acima do registrado no terceiro trimestre. Em reais, a Ativa projeta receita trimestral de aproximadamente R$ 10,9 bilhões, com expansão de 27% frente ao mesmo intervalo de 2019 e mais de duas vezes maior do que o registrado no terceiro trimestre, influenciada também pelo câmbio. Para a última linha do balanço, o BTG projeta prejuízo trimestral de US$ 154 milhões, enquanto o consenso de mercado indica lucro de US$ 28 milhões.

No acumulado de 2020, porém, os resultados devem ter permanecido em terreno negativo, refletindo o adiamento das entregas de jatos comerciais por causa da pandemia e os gastos com a separação e a reintegração da área de aviação comercial, que seria transferida à Boeing. As companhias discutem na arbitragem o fim do acordo anunciado pela companhia americana em abril.

O UBS espera Ebit negativo de US$ 163 milhões no ano, comparável a US$ 5 milhões negativos em 2019, com prejuízo líquido de US$ 494 milhões. Em reais, a Ativa estima prejuízo líquido anual de R$ 3,2 bilhões. As 130 entregas realizadas no ano, sendo 44 aeronaves comerciais e 86 jatos executivos, foram quase 35% menores do que o visto no exercício anterior.

Em bolsa, a valorização de mais de 60% em 2021 reflete a retomada das apostas dos investidores na Embraer. Frente à pior cotação desde o começo do ano passado, de R$ 6,03, a valorização é de quase 140%. Mas diferentes casas de análise, entre as quais Ativa, BTG Pactual e UBS BB mantêm a recomendação “neutra” para o papel, que ainda está cerca de 30% abaixo do preço de janeiro de 2020 (de R$ 20,20), quando ainda havia expectativa de fechamento da operação com a Boeing e a covid-19 não havia provocado os danos enormes na aviação comercial.

O impulso às ações vem de uma combinação de ajustes internos promovidos pela Embraer, viés positivo para aviação executiva e negócios de Defesa e de Serviços e avanço da vacinação contra a covid-19, que está reabrindo o mercado aéreo global. A percepção de que a companhia brasileira pode ser especialmente beneficiada pelas novas demandas do transporte aéreo, com um portfólio de jatos adequado a tempos de pandemia e mercados regionais mais aquecidos, também contribui. Terceira maior fabricante de aeronaves do mundo, a Embraer é líder global no segmento de até 130 assentos.

“Acredito muito no negócio da Embraer. A companhia está se renovando a cada avião”, diz o presidente da consultoria em aviação civil Infraway Engenharia, Thiago Nykiel, citando a nova geração de jatos E195-E2, que entre outros avanços traz importante redução de custo por assento. O especialista lembra que já havia tendência de redução do tamanho das aeronaves em rotas domésticas regionais e o ajuste entre demanda e capacidade foi ainda mais importante com a pandemia. “O uso de aeronaves mais eficientes se tornou essencial nesse contexto, o que é uma grande oportunidade para a Embraer”, diz. Há um mês, o presidente da Lufthansa, Carsten Spohr, disse que a aérea está trocando grandes aeronaves por menores, adequando-se à nova realidade do mercado. A Embraer confirmou que há negociações com a companhia alemã, que já utiliza E-Jets.

Fonte: Valor Econômico

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/03/18/embraer-vive-cenario-de-recuperacao-ainda-gradual.ghtml